
O ácido glioxílico revolucionou a indústria de alisantes capilares com sua promessa de liso duradouro sem os danos do formol. Mas o queridinho dos fabricantes brasileiros pode estar com os dias contados na União Europeia. Sob vigilância rigorosa do SCCS (Scientific Committee on Consumer Safety), o ingrediente está na mira de uma possível restrição ou proibição em solo europeu. E agora? Existe alternativa? Como a indústria pode se antecipar?
Este artigo não só responde essas perguntas, mas também revela os caminhos mais promissores para manter a performance e a conformidade legal de alisantes no mercado europeu.
Por que o ácido glioxílico entrou na berlinda?
Embora tecnicamente permitido, o ácido glioxílico é conhecido por liberar pequenas quantidades de formaldeído quando aquecido com prancha, mesmo após enxágue. Essa liberação, somada a efeitos cumulativos e à exposição em ambientes pouco ventilados, está levando reguladores europeus a reavaliar sua segurança em cosméticos leave-on ou termoativados.
A realidade regulatória na União Europeia
A legislação europeia é clara: apenas ingredientes seguros, autorizados e com função cosmética comprovada podem compor produtos comercializados no bloco. O glioxílico está permitidamente em uso, mas a qualquer momento pode ter sua situação modificada, o que exigiria recolhimento imediato de produtos, reformulação urgente e risco à reputação da marca.
O paralelismo com o Brasil: um sinal do que vem por aí?
No Brasil, a Anvisa já proibiu o uso do ácido glioxílico com finalidade de alisamento capilar. Produtos que utilizam essa substância com a intenção de modificar a estrutura do cabelo estão em desconformidade com a regulamentação sanitária brasileira. No entanto, seu uso ainda é permitido como agente de ajuste de pH ou tamponante, desde que em concentrações seguras e sem fins de alisamento.
A União Europeia pode seguir exatamente essa mesma lógica.
Situação provável: restrição de uso cosmético por finalidade
❌ Proibido como agente alisante/alisamento térmico
Isto incluiria qualquer produto cuja função principal ou marketing sugira:
- Modificação durável da estrutura capilar.
- Alinhamento térmico com prancha.
- Efeito liso de longa duração.
✅ Permitido como ajuste de pH ou agente tamponante, com condições:
- Somente em concentrações seguras (ex: abaixo de 1%).
- Apenas em produtos enxaguáveis.
- Proibido o uso com ativação térmica (prancha/secador).
- Necessária justificação técnica da função no PIF (Product Information File).
- Nenhuma alegação ou função de transformação da fibra capilar.
Exemplo prático:
Imagine um shampoo com pH ajustado com ácido glioxílico a 0,5%. Se ele:
- não é ativado por calor
- não promove alisamento
- não possui claims de efeito liso
→ Pode ser considerado legal e aceitável como agente acidulante, se os dados de segurança forem compatíveis.
Conclusão direta
Sim, se a UE proibir o ácido glioxílico para alisamento, será muito provável que ele continue permitido em outras funções cosméticas, como tamponante ou regulador de pH — desde que não seja usado para alisar os cabelos, nem direta, nem indiretamente. Assim, é proibido o uso com ativação térmica (prancha/secador). Necessária justificação técnica da função no PIF (Product Information File).
Existe alternativa viável ao glioxílico?
Até o momento, nenhum ingrediente replicou 100% o desempenho do ácido glioxílico com a mesma durabilidade e segurança regulatória. No entanto, algumas estratégias estão se destacando:
- Ácido Tânico + Polímeros Fixadores + Proteínas Funcionalizadas
Um blend bem formulado com ácido tânico (permitido na UE), polímeros termoativados (como Polyquaternium-55) e proteínas hidrolisadas com afinidades térmicas têm mostrado resultados surpreendentes. Aliado a um pH ácido e prancha térmica, oferece alisamento durável, brilho e controle de volume por até dois meses, com reaplicação segura. - Cisteamina em pH controlado
Alternativa mais agressiva, mas eficiente, principalmente se o foco é um liso mais definitivo. A cisteamina tem histórico de uso em relaxamentos e pode ser incorporada a cosméticos, desde que acompanhada de PIF robusto e controle toxicológico preciso. No entando, não é compatível com colorações com metais pesados — pode causar reações adversas. Pode durar de 2 a 5 meses, dependendo do tipo de cabelo e da aplicação. Tem um odor forte (enxofrado) que é seu principal desafio sensorial. - Tecnologia “memory shape” com copolímeros inteligentes
Soluções inovadoras baseadas em copolímeros e nanopartículas estão sendo desenvolvidas para oferecer alinhamento temporário, reativado com calor. Embora o efeito dure menos (4 a 6 semanas), é uma opção altamente segura e cosmética, com forte apelo de marketing natural.
Ação imediata: como a indústria brasileira pode se preparar?
- Desenvolver protótipos já sem ácido glioxílico para testes e validação.
- Consultar um assessor de segurança europeu para revisar fichas técnicas e formulações.
- Registrar claims com base em testes reais de performance, evitando alegar alisamento químico se o ingrediente não tiver essa função reconhecida.
- Trabalhar com pH, tempo de aplicação e temperatura como aliados na eficiência, não apenas com ingredientes.
Reflexão Final
O ácido glioxílico pode ainda estar legalmente permitido na UE, mas depender dele como principal ativo alisante é um risco estratégico. As marcas brasileiras que desejam exportar ou atuar com consistência na Europa devem investir agora em reformulações seguras, eficazes e sustentáveis. A inovação não é apenas uma vantagem competitiva: é uma questão de sobrevivência no mercado europeu.
Este artigo complementa nossa publicação anterior “Ácido Glioxílico em Produtos Alisadores Capilares: Regulamentação e Repercussão no Mercado Europeu“, na qual abordamos o contexto regulatório detalhado do ingrediente na União Europeia. Recomendamos a leitura para quem deseja se aprofundar no tema.
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